UMA mania do caraças… Crónica do atleta Luís Miguel Santos da participação na UMA – Ultra Maratona da Areia Melides -Tróia 2015.
A edição deste ano contou novamente com a presença de alguns atletas das Lebres do Sado, entre os quais, e pela sexta vez, de um dos melhores desta associação,
permitam-me esta adjectivação e sem desprimor para os restantes!
E se no terreno este elemento, também conhecido por “O Tigre”, não deixa o “crédito por mãos alheias” na escrita também apresenta, na minha opinião, excelentes resultados!
E como tudo que é bom deve ser partilhado fica aqui a crónica integralmente transcrita de https://www.facebook.com/luis.miguel.90475
Paulo Santos
UMA mania do caraças...
Não tenhamos dúvidas: quem volta ano, após ano a demandar o areal de Melides a Tróia tem UMA pancada valente. Ou, talvez, tenha levado com sol a mais no moleirinha, fritado o que
restava de juízo e no ano seguinte... lá estão eles de novo. Já não penso "Quem me mandou voltar a meter nesta m##da?" como pensei das primeiras duas vezes. Não! É uma prova diferente. Diferente de
ano para ano, diferente na forma em como o percurso nos "morde" diferentemente de ano para ano. Parecendo monótona, garanto que nada disso tem. Não há UMA igual. Que o diga o Fernando Andrade
do alto das onze participações. E o Joaquim Antunes, que sai da toca apenas UMA vez por ano para se meter em mais UMA.
Encarei esta prova como mais UMA para o currículo. Gosto de provas longas e esta tem um lugar especial em mim. Por variadas não razões e nenhuma. Detestei em 2008, odiei em 2009, interrompi
em 2010 e 2011 e quase que me arrependo de tal. Não tenciono voltar a baldar-me! Razões? Para quê enumerar razões? Há várias, todas importantes e nenhuma vinculativa. Estar para aqui a
enumerá-las daria um cunho racionalista à coisa e perdia a espontaneidade. E será que é preciso racionalizar todas as nossas razões por mais irracionais que sejam? Parafraseando o Almirante
Pinheiro de Azevedo: Bardam#rda (para as razões /motivos)!
Se em outros anos sentia-me mais preparado, se é que alguém pode dizer que está preparado para aquilo que os elementos nos prepararam, com mais volume de provas, este ano o meu meio
ambiente tem sido mais liquida que sólido. Não há crise! Tirando algum azar, mais hora menos hora, lá chegarei a Troia.
Dormi pouco, demasiadamente pouco na véspera, talvez umas 2 horas e aproveitei a viagem no autocarro até Melides para bater uma bela soneca embalado pelo matraquear do Jorginho.
Em Melides, pouca gente junto à partida e tal como diz o Fernando Andrade, isto de meter uma mini, "rouba" participantes. Enumera o Fernando vários motivos que podem ter contribuído para a
diminuição de participantes, mas eu acrescento mais um: o desinteresse! Aquele desinteresse igual ao dos pirralhos que ao verem um pacote de caramelos de várias cores, sabores e feitios, não
descansam enquanto não os provam todos. Mesmo que depois apanhem uma valente dor de barriga... Ou seja, muito menino e menina, aterra nisto das corridas há meia dúzia de meses, inscreve-se em
todas as provas, vai de novidade em novidade - "Mais uma superação pessoal", "Guerreiro/a", "És grande!" e outras que tais. Mas as novidades passam, são, e sentem-se, incapazes de se
reinventarem e buscam, tal como o Bocage, a ultima moda, a "prova derradeira", o teste máximo as suas capacidades. Alegremente de vazio em vazio. Já fizeram, não repetem. Passou a novidade.
E convenhamos que esta prova não é de fácil digestão...Eu que o diga!
A partida foi precedida pelas habituais recomendações e palavras de circunstância. Do areal, nem vale a pena tentar adivinhar as condições do percurso.
Assim que deu a partida, imediatamente encaminhei-me para junto da rebentação das ondas e aí fiquei. Apenas por duas vezes sai dessa zona e por causa dos controles de passagem. Os primeiros
5 ou 6 kms são, como habitualmente, demolidores. Faz parte. Depois do primeiro controle é que a coisa pode, paulatinamente, vir a melhorar alguma coisita. Ou não! Mas este ano até que estava razoável.
A maré lá ia baixando, a areia estava algo compacta. Atenção: para o habitual daquela área. Nada de comparações com a auto estrada da Costa de Caparica! Dava para progredir, digamos, tranquilamente.
Comecei sozinho e tive a companhia esporádica do Paulo Pires. Não valia a pena meter-me em veleidades porque sabia lá eu o que ia apanhar até à Comporta e pior, depois da Comporta. Assim, a
arrumar "papelada" na minha cabeça fui, em modo solitário, praia acima. O apoio dos banhistas é esporádico e não é coisa da qual eu dependa ou que sinta uma falta desmedida. Cada um na sua:
eles a banhos e eu a assar ao sol. Quanto sentia a temperatura a subir, ia mais para dentro de agua e corria de modo a molhar-me um pouco mais. Tinha programado o GPS para apenas me mostrar os
kms percorridos e era isso que de vez em quando verificada para saber se estava ainda longe da Comporta, aonde eu já tinha previsto parar mesmo para comer uma bucha e fazer uma mistela de isotónico.
À falta de cerveja...
Comporta e dito e feito: cacei uma cadeira, meti-me à sombra e de perna traçada com uma sandes de presunto com hortelã numa mão e na outra uma garrafada de isotónico, ia vendo os outros
"desgraçados/as" que iam passando. Alguns muito apressados, outros já demolidos. Fernando, tu nem falavas. Abastecido - faltou o raio da cerveja - pus-me a andar daquele recanto de perdição.
Agora a coisa funcionava em modo decrescente: faltam 15, faltam 14... Apanho o Fernando Andrade que estava meio atrapalhado sem saber como fazer para descalçar as sapatilhas. Estava ele em pleno
acto de ginástica sueca quando lhe disse: "Ó homem, porque não te sentas na água e calças isso como deve ser?" Ficou uns momentos a olhar para mim e lá se sentou. O sol do meio dia é terrível...
Lá fomos, um bocadinho andando e outro caminhando. Como quem vai com o Fernando, o outro, o tal daquela piadola. Fizemos um km nesta passada. Foi até encontrarmos o pessoal de São João das Lampas
com o corredor "Caminhada". Ficamos a olhar um para o outro sem grande jeito e lá nos pusemos a correr alguma coisa. De repente, pensava eu que o tinha ao meu lado e nada. Ficou-se para trás e eu...
segui. Não estava mal de todo, mas algo vinha a moer-me no isquiotibial direito...Lá para os 38kms a dor tornou-se mais incomodativa. Natural: é uma das consequências de correr em plano inclinado.
Causa o encurtamento muscular da perna direita neste caso. Deveríamos ser como os carros NASCAR e ter afinação da suspensão que lhes permite fazer centenas de voltas sempre a virar para o mesmo lado
e sempre com mais inclinação à direita. Nem quero pensar em alguém que tenha um encurtamento do fémur a fazer esta prova... Cheguei a fase do "está quase" que coincide com o recorrente pensamento:
"qual é a ultima curva do areal ?" E após uma delas e nunca daquela que imaginamos, lá se ao longe, amarelinho e demasiadamente longe, o insuflável. E eu a pensar que atrás dele, estivesse o
balcão da água de Vialonga como no ano passado.
A aproximação à meta não tinha um corredor delimitado como já houve e fazia algum jeito. Após tanto tempo, o entendimento ficou para os lados de Melides e acaba-se por andar a correr,
sem necessidade, no meio das toalhas dos banhistas. Rendeu-me 5h53 a minha sexta demanda. Era hora de refrescar, comer fruta, ficar por ali a refastelar. Gostei e fiquei satisfeito comigo:
tenho corrido pouco, quer em quantidade, quer em volume. Não fiz, nem faço, qualquer treino em areia. Estou-me borrifando se a maré tem muita ou pouca amplitude. Ali, manda a etiqueta, que
se coma aquilo que Neptuno nos estende até Tróia.
Esta prova tem características únicas porque uma das coisas que não se pode comparar é a prestação de A, B ou C. Um ano faz-se uma grande prova, noutro se calhar não é bem assim...
Num ano A queixa-se das condições do piso, enquanto B diz que não está mal. No ano seguinte, a coisa inverte-se... Bem...mais UMA. E para o ano, se tudo correr de feição farei mais UMA. A sétima!
Luís Miguel Santos